domingo, 24 de julho de 2022

PEGA ESSE PASSINHO


"Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que não sabem voar".

Friedrich Nietzsche

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terça-feira, 19 de julho de 2022

Motivação Diária

quinta-feira, 16 de junho de 2022

O que te motiva?


 

Você acredita em bruxas?


 

sexta-feira, 14 de maio de 2021

O IMPACTO DO PODER NEGATIVO DAS TIPIFICAÇÕES E A TEORIA DOS PAPÉIS

 

Ao se pensar no sentido da terminologia da palavra poder, se faz necessário entender o que seria o significado da palavra potência. Podemos imaginar que alguns países considerados superpotências possuem armas nucleares, de destruição em massa, contudo, não necessariamente quer dizer que vão utilizar sem que haja alguma necessidade que justifique tal ato.

 

[...] A potência é a capacidade de efetuar um desempenho determinado, ainda que o ator nunca passe do ato.  [...] não é a mesma coisa atribuir-se a uma criança ou a um arquiteto a potência de construir uma casa. Num caso isto quer dizer que, quando a criança se tornar adulto, poderá ser um arquiteto: quem sabe? Isto não é impossível. No outro caso, quer dizer que este arquiteto, atualmente sem trabalho, construirá uma casa, desde que o contratem: é seu este poder. Por um lado, “potência” designa uma virtualidade: por outro, uma capacidade determinada, que está em condições de exercer-se a qualquer momento. (LEBRUN, 2009, p. 10).

 

Entendendo o que seria o significado de potência, agora se faz necessário entender o significado da palavra força. (LEBRUN, 2009, p. 11)Se numa democracia um partido tem peso político é porque tem força para mobilizar um certo número de eleitores. Se um sindicato tem peso político, é porque tem força para deflagrar uma greve”. Não necessariamente quer dizer que se precise utilizar a força por meios coercitivos que sejam violentos. Por exemplo, a força pode ser o charme da pessoa amada numa relação amorosa, quando extorque alguma decisão; (LEBRUN, 2009, p. 11), “uma relação amorosa, é, antes de mais nada, uma relação de forças”. A força é a canalização da potência, seria a sua determinação.

            Potência (macht) é a capacidade de impor a sua vontade contra a de uma ou mais pessoas, mesmo que haja resistência. Então, porque falar em poder e não em potência?


Poder inclui um elemento suplementar, que está ausente de potência. Existe poder quando a potência, determinada por uma certa força, se explicita de uma maneira muito precisa. Não sob o modo de ameaça, de chantagem etc., mas sob o modo da ordem dirigida a alguém que, presume-se, deva cumpri-la.   (LEBRUN, 2009, p. 12)

 

            Nas palavras de (LEBRUN, 2009), Parsons recusa-se a considerar o poder como sendo, essencialmente, “uma ação imposta por um ator a outro ator”.


[...] para ele, o poder não é simplesmente a capacidade de impor a sua vontade contra a de outra pessoa independente da resistência. [...] é antes, dispor de um capital de confiança tal que o grupo delegue aos detentores do poder a realização dos fins coletivos. Em suma, é dispor de uma autoridade, no sentido em que um escritor de renome, um pensador ilustre, um velho sábio... são autoridades no interior de um grupo dado (sem que esta autoridade implique uma ideia de coerção). (LEBRUN, 2009, p.14).

 

            É esse tipo de poder que acredito dever estar presente em determinadas tipificações e que se necessita fazer uso dele.


Quando assumimos o papel de gestor também assumimos as suas responsabilidades, como se colocássemos uma máscara. Segundo Goffman apud. Park (GOFFMAN, 1985) (nota de rodapé) pag. 27, “não é um mero acidente histórico que a palavra pessoa”, e sua acepção primeira, queira dizer máscara”. Nesse sentido, imagino que constantemente estamos interpretando papéis ou usando máscaras, que por sua vez, são legitimados pela institucionalização, ou forma de tornar padrão determinado agir ou costume.


A questão de saber quais são os papeis que se institucionalizam é idêntica à questão de definir quais áreas de conduta são afetadas pela institucionalização, e pode ser respondida da mesma maneira. “Toda” conduta institucionalizada envolve um certo número de papeis. Assim, os papeis participam do caráter controlador da institucionalização. Logo os atores são tipificados como executantes de papeis, sua conduta é ipso facto susceptível de reforço. (Peter L. BERGER, 2014, p. 100).

 

            O gestor não precisa gritar ou ser rude com o subordinado para interpretar o seu papel, por que a sua função dentro da empresa já traz consigo a autoridade do seu cargo.          Entretanto, quando me refiro a questão do reconhecimento sobre o poder das tipificações, tenho consciência de que a construção social da tipificação do papel do gestor é baseada nos comportamentos anteriores, consequentemente, traz consigo certo medo e antipatia por parte dos subordinados.

Há muito tempo já existe a função de encarregado no interior das empresas, independente de quem quer que esteja ocupando o cargo, e que isso não é uma questão de despotismo, ou seja, o indivíduo não nasce encarregado. Entretanto, mesmo que o sujeito (encarregado), que pode ser qualquer pessoa, queira agir de uma forma amigável sendo cordial com os subordinados, percebo que existe certa resistência e desconfiança por parte dos mesmos.

Geralmente quando alguns gestores se retiram do local aonde tenha acontecido alguma reunião alguns subordinados fazem sinal negativo ou falam mal, mesmo quando os gestores não tenham tido algum choque com eles e entendo esse aspecto como sendo o maior entrave em aplicar o reconhecimento como motivação, por que, primeiro deva deve-se resgatar a confiança do colaborador.


O comportamento do indivíduo se apoia totalmente no grupo. Os trabalhadores não agem ou reagem isoladamente como indivíduos, mas como membros de grupos. A qualquer desvio das normas grupais, o trabalhador sofre punições sociais ou morais dos colegas, no intuito de se ajustar aos padrões do grupo. Enquanto os padrões do grupo permanecerem imutáveis, o indivíduo resistirá a mudanças para não se afastar deles, dos colegas. (CHIAVENATO, 2003, p. 105).

 

            Existe determinado tipo de coerção imposto pelo grupo aos funcionários novatos que, subjetivamente, moldam os seus comportamentos fazendo com que aumentem ou diminuam o seu ritmo de trabalho, e isso é uma questão cultural na empresa que pode facilmente ser percebida. São os grupos informais, os quais serão abordados mais adiante.

 

A EXPERIÊNCIA DE HAWTHORNE

 

          

Primordialmente, a intenção de Elton Mayo[1] era a de achar alguma relação entre a produtividade e as condições físicas dos funcionários. Em princípio foram divididos dois grupos distintos de pessoas, separados por uma divisória, criando dois ambientes idênticos, com a iluminação controlada por um observador. Na medida em que se diminuía a iluminação das luzes de um dos dois lados o grupo diminuía a sua intensidade de trabalho, e quando aumentava a claridade, também se aumentava o ritmo de trabalho. Mayo percebeu que isso acontecia por fatores psicológicos e não por condições físicas, o grupo acreditava estar sendo mais intensamente observado quando se aumentava a luz e menos observado quando se diminuía. Esse fato caracterizou a primeira fase da experiência de Hawthorne.

 

Em 1927, o Conselho Nacional de Pesquisas iniciou uma experiência na fábrica de Hawthorne da Western Electric Company, situada em Chicago, para avaliar a correlação entre iluminação e eficiência dos operários, medida por meio da produção. A experiência foi coordenada por Elton Mayo, e estendeu-se à fadiga, aos acidentes no trabalho, à rotatividade do pessoal (turnover) e ao efeito das condições de trabalho sobre a produtividade do pessoal. (CHIAVENATO, 2003, p. 103).

 

Na segunda fase da experiência foram colocados dois grupos de moças num ambiente, separado dos demais operários da fábrica, esse grupo tinha uma supervisão com menos pressão sobre os funcionários, e os supervisores funcionavam como orientadores, as pessoas podiam conversar, rir e tinham alguns minutos de intervalos por dia.


Cinco moças montavam os relês, enquanto uma sexta operária fornecia as peças para abastecer o trabalho. A sala de provas era separada do departamento (onde estava o grupo de controle) por uma divisão de madeira. O equipamento de trabalho era idêntico ao utilizado no departamento, apenas incluindo um plano inclinado com um contador de peças que marcava a produção em fita perfurada. A produção foi o índice de comparação entre o grupo experimental (sujeito a mudanças nas condições de trabalho) e o grupo de controle (trabalho em condições constantes). O grupo experimental tinha um supervisor, como no grupo de controle, além de um observador que permanecia na sala e observava o trabalho e assegurava o espírito de cooperação das moças. Elas foram convidadas para participar na pesquisa e esclarecidas quanto aos seus objetivos: determinar o efeito de certas mudanças nas condições de trabalho (períodos de descanso, lanches, redução no horário de trabalho etc.). Eram informadas a respeito dos resultados e as modificações eram antes submetidas a sua aprovação. Insistia-se para que trabalhassem dentro do normal e que ficassem à vontade no trabalho. (CHIAVENATO, 2003, p. 103).

 

O comportamento desse grupo experimental coloca em xeque a teoria cientifica e clássica da administração, pois, querendo mostrar a sua satisfação o grupo passou a produzir mais. Com isso, Mayo percebeu que as condições físicas das pessoas não eram o fator principal para o aumento na produção, mas as pessoas em geral são motivadas por expectativas grupais, psicológicas e sociais e é nesse contesto que acredito, o das expectativas por reconhecimento e respeito no trabalho, que se possa atuar, contudo, não sendo desonesto para se obter um resultado especifico, mas, sendo justo e honesto respeitando o funcionário tratando-o com respeito e cordialidade.


A experiência da sala de montagem de relés trouxe as seguintes conclusões: as moças gostavam de trabalhar na sala de provas porque era divertido e a supervisão branda (ao contrário da supervisão de controle rígido na sala de montagem) permitia trabalhar com liberdade e menor ansiedade; havia um ambiente amistoso e sem pressões, no qual a conversa era permitida, o que aumentava a satisfação no trabalho; não havia temor ao supervisor, pois esse funcionava como orientador; houve um desenvolvimento social do grupo experimental. As moças faziam amizades entre si e tornaram-se uma equipe; o grupo desenvolveu objetivos comuns, como o de aumentar o ritmo de produção, embora fosse solicitado a trabalhar normalmente. (CHIAVENATO, 2003, p. 104).

 A produtividade aumentou nessa fase sem que fosse preciso criar um plano salarial como fator motivacional para atender algum tipo de demanda. Percebesse que os trabalhadores também têm as suas demandas por boas condições de trabalho e a condição de poder opinar e poder influenciar na melhoria do modo de trabalho gera, de certa forma, uma situação de reconhecimento da sua capacidade intelectual e social de modificação que, acredito, também está relacionado ao prestigio no trabalho.

Na terceira fase da experiência de Hawthorne, preocupados com o comportamento e atitudes diferentes entre as moças do grupo experimental e as do grupo de controle, os pesquisadores abriram mão do escopo inicial de averiguar as condições físicas de trabalho e passaram a dar mais atenção no estudo das relações humanas no trabalho.


Verificaram que, no grupo de controle, as moças consideravam humilhante a supervisão vigilante e constrangedora. Apesar de sua política pessoal aberta, a empresa pouco ou nada sabia acerca dos fatores determinantes das atitudes das operárias em relação à supervisão, aos equipamentos de trabalho e à própria organização. (CHIAVENATO, 2003, p. 104).

 

            Em 1928 é dado o início a um programa de entrevistas, Interviewing Program, para conhecer as atitudes e sentimentos dos operários e entender a sua opinião em relação ao tratamento que recebiam no seu trabalho, como também escutar sugestões a respeito do treinamento dos supervisores. “Adotou-se a técnica da entrevista não-diretiva, que permitia que os operários falassem livremente, sem que o entrevistador desviasse o assunto ou tentasse impor um roteiro prévio. ”, (CHIAVENATO, 2003, p. 105).

            Contudo, passa a acontecer na empresa um certo tipo de organização informal[2], por parte dos funcionários, que faz com que os operários se mantenham unidos por laços de lealdade, ou seja, uma lealdade comum dividida entre eles que molda e determina o comportamento de todos. Os trabalhadores passam a regular, de certa forma, a produção diária, diminuindo ou acelerando a produção. Alguns trabalhadores se sentem divididos entre a empresa e a lealdade ao grupo, e isso gera conflito, tensão, inquietação e descontentamento entre eles.

Para estudar esse fenômeno, os pesquisadores desenvolveram uma quarta fase da experiência de Hawthorne. Foi escolhido um grupo experimental para trabalhar em uma sala especial com condições de trabalho idênticas às do departamento. Um observador ficava dentro da sala e um entrevistador do lado de fora entrevistava o grupo.

 

Assim que se familiarizou com o grupo experimental, o observador pôde constatar que os operários dentro da sala usavam várias artimanhas -logo que os operários montavam o que julgavam ser a sua produção normal, reduziam seu ritmo de trabalho. Os operários passaram a apresentar certa uniformidade de sentimentos e solidariedade grupal. O grupo desenvolveu métodos para assegurar suas atitudes, considerando delator o membro que prejudicasse algum companheiro e pressionando os mais rápidos para "estabilizarem" sua produção por meio de punições simbólicas. Essa quarta fase permitiu o estudo das relações entre a organização informal dos empregados e a organização formal da fábrica. (CHIAVENATO, 2003, p. 105).

 

O interessante é que essa questão de o grupo desenvolver uma relação de controle uns sobre os outros, para aumentar ou diminuir o ritmo de trabalho, é como se fosse um fato social, os indivíduos para não sofrerem sanções agem de acordo com a maioria para não serem excluídos do grupo. Mesmo que um funcionário queira trabalhar mais depressa, quem vai determinar o ritmo é o grupo.


Os operários preferiram produzir menos - e ganhar menos - a pôr em risco suas relações amistosas com os colegas. Cada grupo social desenvolve crenças e expectativas em relação à Administração. Essas crenças e expectativas - sejam reais ou imaginárias - influem nas atitudes e nas normas e padrões de comportamento que o grupo define como aceitáveis. As pessoas são avaliadas pelo grupo em relação a essas normas e padrões de comportamento: são bons colegas se seu comportamento se ajusta a suas normas e padrões de comportamento ou são péssimos colegas se o comportamento se afasta delas. (CHIAVENATO, 2003, p. 105).

 Isso comprova que o aumento ou diminuição da produção não está totalmente relacionado ao fator econômico, mas, o indivíduo se apoia no comportamento do grupo.

A Experiência de Hawthorne foi suspensa em 1932 por motivos financeiros. Sua influência sobre a teoria administrativa foi fundamental, abalando os princípios básicos da Teoria Clássica então dominante.

 Embora pareça uma coisa obvia a importância de o fato das relações humanas no trabalho ser uma coisa fundamental para influenciar na produção, poucos gestores se abstêm a tomar esse tipo de atitude e acham normal utilizar o método antigo de gestão por cobrança e pressão, pois, não se utilizando de tais métodos, subjetivamente, se mantém certo tipo de status quo, e estratificação no trabalho. O trabalhador, acredito, tem que se sentir desafiado a encontrar novas alternativas de melhoria e se sentir participativo no processo do trabalho diariamente. A questão da produção no trabalho não é proporcional a quantidade de pessoas.

 



[1]      Mayo conduzira uma pesquisa em uma indústria têxtil com elevadíssima rotatividade de pessoal, algo em torno de 250% ao ano e que havia tentado inutilmente vários esquemas de incentivos salariais. (CHIAVENATO, 2003, p. 102).

           [2]      O Programa de Entrevista revelou a existência da organização informal dos operários afim de se protegerem contra o que percebiam como ameaças da Administração. Essa organização informal manifesta-se por meio de: a. padrões de produção que os operários julgam ser a produção normal que deveriam ter e que não eram ultrapassados por nenhum deles; b. práticas não-formalizadas de punição social que o grupo aplica aos operários que excedem os padrões e são considerados sabotadores; c. expressões que fazem transparecer a insatisfação quanto aos resultados do sistema de pagamentos de incentivos por produção; d. liderança informal de alguns operários que mantem o grupo unido e asseguram o respeito pelas regras de conduta; e. contentamentos e descontentamentos em relação às atitudes dos superiores a respeito do comportamento dos operários. (CHIAVENATO, 2003, p. 105).

segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Por quê estamos sempre vigiando a atitude do outro?

       
Tendo como fundamentação teórica a teoria do funcionalismo Durkheimiano, acredita-se que a sociedade funciona como um corpo, um organismo, e que  o bom funcionamento de todo corpo dependerá da integração e coesão de suas partes. Assim como órgãos de um corpo, acredita-se que a sociedade é composta por partes integrantes que se complementam, e essas partes funcionam como organismos independentes e interdependentes e, como todo organismo tem o seu sistema de defesa natural, poder-se-ia dizer que a sociedade, sendo um organismo, também tem a capacidade de criar os seus próprios anticorpos.
Anticorpos são glicoproteínas, também chamadas de imunoglobulinas, que possuem como principal função garantir a defesa do organismo. Essas glicoproteínas de defesa atuam de diferentes formas para evitar que uma partícula invasora cause danos à saúde. (SANTOS, 2020).
            Qualquer conduta desviante à coerção impostas pelos fatos sociais pode ser corrigida pelos atores sociais como forma de se manter o bom funcionamento do corpo social. O que é um fato social?
Trata-se de máximas puramente morais? A consciência pública contém todo ato que a ofende por meio da vigilância que ela exerce sobre a conduta dos cidadãos e as penas especiais das quais dispõe. Em outros casos, a repreensão é menos violenta; [porém], ela não deixa de existir. Se eu não me submeto às convenções do mundo, se, ao me vestir, eu não dou a mínima atenção aos costumes de meu país ou de minha classe, o riso que provoco, a alienação a que me  submetem, produzem, mesmo que de maneira atenuada, os mesmos efeitos de uma pena propriamente dita. (DURKHEIM, 2012, p. 32).
Precisamos entender como as características de vigilância e punição analisadas pelo sociólogo e filósofo Michel Foucault se complementam com o pensamento Durkheimiano. Foucault é um sociólogo francês que desenvolveu analises importantes sobre a sexualidade, o surgimento das prisões e dos manicômios, e sobre as características que o poder exerce na sociedade e a sua ação sobre os corpos. Para  Foucault (2012), o principal alvo  de ação do poder é o corpo.
Em relação a vigilância e punição, podemos partir do conceito do panopticismo. O panoptico.
Foucault aponta que “Nos anos de 1830, o Panoptico se tornou o programa arquitetônico da maioria dos projetos de prisão”. (1979:249) e que outras instituições além da prisão adotaram suas disposições arquitetônicas para uma ampla variedade de propósitos. Como exemplo desta adoção, Foucault detalha todas as características panópticas da arquitetura do manicômio no início do século XIX, demostrando  que a arquitetura  panóptica do edifício manicomial foi interpretada como a própria cura para a loucura (2006ª: 102-107). Esta aquisição transinstitucional das disposições arquitetônicas do panoptico intensificou a disseminação do poder disciplinar. (HOFFMAN, 2018, p. 51).
Henry Louis Mencken ironiza a respeito do bom senso e da consciência das pessoas, ele diz: “A consciência é uma voz interna que avisa quando alguém está me olhando”, e esse é sempre um conceito atual, pois, nos mostra que o conceito do “panopticismo/vigilância” ainda está constante nas instituições, sejam, públicas, privadas ou o olhar do outro sobre nós, pois molda o comportamento dos nossos corpos. Segundo esse ditado quando não estamos nos sentindo observados cometemos algumas infrações como, ultrapassar um sinal vermelho, jogar lixo no chão, fazemos coisas entre quatro paredes, e dizemos o que não diríamos, ou faríamos em público. Só que de acordo com uma das teorias Bourdieusiana, o habitus, mesmo quando não estamos diante de alguém continuamos com certos comportamentos, por que, naturalmente, internalizamos as características da normatividade. Na visão de Foucault, docilizamos o nosso comportamento colocando o desvio sob pena de punição, que, no caso, não necessariamente vai ferir o corpo, mas também pode ser uma punição simbólica.
[...] entre as muitas lições do panopticismo está a de que o poder que parece focado em um indivíduo está de fato “distribuído” por toda a estrutura, de modo que cada indivíduo é simultaneamente “objeto” e “sujeito” desse poder: o prisioneiro é “vigiado”, mas está sendo treinado para vigiar a sim mesmo, para ser o seu próprio inspetor. (HOFFMAN, 2018, p. 80).
O modo como os meninos e as meninas devem sentar, andar, se expressar etc. são predeterminados por ocasião das instituições que disciplinam e tornam comuns determinados tipos de caráter, tipificação ou conduta institucionalizada. Entenda-se aqui instituição por, família, escola, igreja, policia etc.
A normatividade[1] pode ter um caráter fim ou ser o meio para se executar uma determinada ação. “Uma norma é uma descrição verbal do curso concreto da ação assim considerada desejável, combinada com uma injunção para fazer com que certas ações futuras estejam de acordo com esse curso”. (PARSONS, 2010, p. 113).
A sociedade é composta de normas e valores os quais necessariamente devem ser respeitadas, e essa normatividade constituem as leis e a ordem necessárias para que a sociedade se mantenha coesa, e também influenciam na cultura de cada uma delas.
Pois bem, de acordo com a teoria dos fatos sociais de Durkheim e a teoria de vigilância e punição de Michel Foucault, se os fatos sociais são considerados predeterminantes da ação dos atores sociais a vigilância constante dos indivíduos uns sobre os outros, como afirma Foucault, podem ser considerado o que coage os atores a não transgredir as normas, como uma espécie de anticorpos do grande e extenso corpo social que atuam para manter a estabilidade social.
A fim de evitar que o desvio se dilua num oceano de diferenças, deve-se atentar para a norma: o desvio é falta de obediência social. Mesmo arriscando a confusão de uma categoria da não conformidade com outra, um desvio é punível, enquanto que, uma simples diferença não o é (ela pode consistir em um meio de distinção social, frequentemente é causa de exclusão a um status social menos valorizado). (ROBERT, 2011, p. 47).
Podemos observar a questão da conservação da normatividade em escalas, micro ou macro social. Pois, a conservação e a vigilância das normas não acontecem somente nos grupos de grande escala, podemos imaginar um grupo pequeno, de três pessoas, que tem preferência por algum tipo de  estilo musical, o rock, por exemplo. Pode ser definido uma saudação comum, um tipo de gesto para que os integrantes se identifiquem, uma cor que os defina, um estilo de roupa etc. e essa tipificação institucionalizada pelo grupo vai ser passível de vigilância por todos os integrantes do grupo, qualquer desvio é passível de punição para que as partes do grupo se mantenham coesas. É sempre feita uma manutenção como forma de vigilância e punição apara corrigir os infratores, nas quais, posteriormente podem vir as sanções. Existem dois processos de aprendizado e de consolidação da experiencia que reforçam as tipificações, o processo de sedimentação e tradição. Como se fosse uma ritualização, que cria padrões a serem seguidos.
Sedimentação e tradição – Somente uma pequena parte das experiencias humanas são retidas na consciência. As experiencias que ficam assim retidas são sedimentadas, isto é, consolidam-se na lembrança como entidades reconhecíveis e capazes de serem lembradas. (BERGER ,Peter L.. 2014, p. 92).
          Esse processo de sedimentação facilita a leitura dos acontecimentos na sociedade. Dessa forma eu posso pressupor que um policial está cumprindo o seu papel ao abordar um infrator de alguma norma social, inclusive, a leitura que será feita será a de que a policia está cumprindo o seu papel, “abordando um marginal”. As pessoas que não andam no mesmo sentido das normas sociais são colocadas à margem da sociedade. O processo de sedimentação e tradição facilitará a leitura dos acontecimentos e das tipificações e dar um nome ao que está acontecendo.
Papeis – Isto implica entre indivíduos, que o primeiro tem em comum com os outros finalidades especificas e fases entrelaçadas de desempenho e, ainda mais, que são tipificadas não apenas ações especificas, mas também, formas de ação. (BERGER ,Peter L.. 2014, p. 97).
Todos os indivíduos exercem vários tipos de papeis durante a vida, existe o papel principal, que vai ser predominante e os papeis secundários. O indivíduo pode ser: pai e ao mesmo tempo filho, pode ser professor e aluno em outra instituição, pode ser um policial ou um religioso de renome, e em cada caso ele vai ter que atuar de acordo com o papel que estiver exercendo no momento. Para que a sua atuação seja legitimada pelo reconhecimento do outro, segundo Goffman[2], ele tem que ser convincente e se esforçar para que o outro acredite na sua interpretação. Outra forma de delimitar o comportamento das pessoas é o determinando o comportamento baseando nas tradições é na religião. Presume-se que um grande percentual  de pessoas, em todo o mundo, professam algum tipo de religião e, em algum momento, antes da criação das leis a normatividade foi predeterminada pela religião, e se considerarmos a religião cristã, pode ter nascido aqui o primeiro e mais eficiente sistema de vigilância e punição, pois, dada a onisciência, onipotência e a onipresença da divindade, não tem como cometer um crime e se esconder, ou omitir a intenção pois Jeová saberá da intenção bem antes que se cometa o delito e mesmo que se cometa e o indivíduo consiga fugir, ninguém consegue se esconder de Deus. Aqui não tem a necessidade de câmeras ou panoptico para inibir a infração pois isso já está do lado de dentro de nossas “cabeças”. Como “o prisioneiro que é “vigiado”, mas está sendo treinado para vigiar a sim mesmo, para ser o seu próprio inspetor”.
Grande parte da população mundial apresenta-se filiada a algum tipo de religião. Michel Malherbe, em seu livro les religions de I’humanite, fornece-nos preciosos índices da distribuição de correntes religiosas no mundo. Ele apresenta, à página 44, a seguinte distribuição populacional: ateus, 29%, cristãos, 28%, islamitas, 18%, hindus, 15%, budistas, 05%, seguidores de outra religião, 05%. Podemos concluir que mais de 70% da população mundial segue algum tipo de religião. Os 29% rotulados ateus não foram estudados e pesquisados por esse autor com a finalidade de verificar onde são investidos os mecanismos e as funções encontrados na religião, tais como: a omnipotência, o sagrado, e o profano, o divino, os rituais etc. (AMARO, 2003, p. 69).
      A religião é uma coisa que está fortemente ligada à cultura das sociedades, nas quais estão inseridas, e “coincidentemente” sempre relacionadas a alguns mitos e símbolos. 
E, na história da humanidade, não há registro em qualquer estudo por parte da História, Antropologia, Sociologia ou qualquer outra ciência social, de um agrupamento humano em qualquer época que não tenha professado algum tipo de crença religiosa. As religiões são, então, um fenômeno inerente à cultura humana, assim como as artes e técnicas. (MOREIRA, 2008; Pg. 249).
Teoricamente, baseado na grande quantidade de grupos nos quais vivemos e estamos imersos, entende-se que também estamos sempre atuando como vigilantes uns dos outros reprovando ou confirmando a atitude do outro. “Menino veste azul, menina veste rosa...”, “homem não casa com homem nem mulher com mulher...”, “roqueiro tem que odiar pagode...”, “evangélico não pode ler livros seculares...”, “gays não podem demonstrar afeto em público”... etc.
       Um teórico importante e pertinente é Antony Giddens teórico da teoria da estruturação. As instituições e as normas são estruturadoras das ações dos indivíduos e os mesmos, ao agirem de acordo com as normas estão estruturando a estrutura. Reforçando as normas as quais estão se sujeitos.
Nessa perspectiva a anomia poderia ser uma doença social?


BIBLIOGRAFIA

AMARO, J. W. (2003). Temas essenciais. São Paulo: Lemos Editorial.

PETER L. BERGER, T. L. (2014). A Construção Social da Realidade. Rio de Janeiro: Vozes.
DURKHEIM, É. (2012). As regras do metodo sociologico (1ª ed.). (W. Solon, Trad.) São Paulo - SP: EDIPRO.

FOUCAULT, M. (2012). Vigiar e Punir. Petropolis - RJ: VOZES.

GOFFMAN, E. (1985). A representação do eu na vida cotidiana. (M. C. Raposo, Trad.) Petrópolis: VOZES.

GUERREIRO, E. (03 de Janeiro de 2008). A IDEIA DE MORTE – do medo à libertação. Algarve, Portugal. Acesso em 2020, disponível em http://www.scielo.mec.pt/pdf/dia/v28n2/v28n2a12.pdf.

HOFFMAN, M. (2018). Michel Foucault: Conceitos Fundamentais. (D. TAYLOR, Ed., & F. Creder, Trad,) Petropolis: Vozes.
MERTON, R. K. (1970). Sociologia: Teoria e estrutura. Belo Horizonte: MESTRE JOU.
MOREIRA, A. (03 de Janeiro de 2008). A religião como Fenomeno Propulsor da Ecocultura. São Leopoldo, RS, Brasil. Fonte: http://www.anais.est.edu.br/index.php/congresso/article/viewFile/5/20.

ROBERT, P. (2011). Sociologia do crime. Petropolis - RJ: VOZES.

SANTOS, Vanessa Sardinha Dos. "O que é anticorpo?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/biologia/o-que-e-anticorpo.htm. Acesso em 10 de janeiro de 2020.




[1] Teoria do desvio; MERTON, R. K. (1970), Merton faz uma abordagem sobre a tensão entre a normatividade e a cultura. Para ele, culturalmente as pessoas buscam o sucesso financeiro como forma de ser bem sucedido na sociedade só que essa necessidade do sucesso esbarra nas normas e na legalidade. Se o indivíduo não respeitar as leis e tentar ficar rico cometendo atos ilegais, como vender drogas, tráfico de armas etc. vai ser punido pelo sistema penal de tal sociedade. A cultura vai esbarrar na normatividade, contudo, há alguns casos de indivíduos que não se incomodam da origem da riqueza de determinadas pessoas e dão mais valor a cultura desconsiderando o valor da normatividade. Não se sentirá constrangido em posar ao lado de algum criminoso em uma foto, por exemplo. Com a exceção desses casos, A cultura tem fortemente influencia no comportamento das pessoas. O fato de não se preocupar com as normas da sociedade é caracterizado como “anomia”, ausência de normas.
[2] (GOFFMAN, 1985), (A representação do eu na vida cotidiana).

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Tristeza e esperança do nordestino


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Quando o sorriso aflora no rosto triste
A dor vai embora, o tempo muda
São lágrimas e pranto pedindo ajuda
Pelo sonho que não desiste
A dor que é aguda, mantém a angústia
Da dor no peito que que ainda existe

O frio da timidez na face
A responsabilidade do pão
De porta em porta a pedir uma profissão
Traz até um saudosismo, faz partir o coração
No tempo que tinha amigos, tinha fartura e tinha vivido
No seu sitio o seu quinhão

A individualidade predomina
Perturba as lagrimas de quem chora
Quem sente fome quer agora
O capitalismo é quem domina
Para um trabalhador jogado fora
Uma ocupação é o que anima

Não ser letrado é um castigo
Não nasci rico meu patrão
A humildade carrego comigo
Mas tenho fé que um dia fico
Com a fé de nosso senhor jesus cristo
Que trago no coração

Nascer pobre foi minha sina
O estudo o trabalho me roubou
Mas eu juro que um dia vou
Como toda panela tem sua tampa
Um passarinho que ainda canta
Ver um filho meu ser doutor

Alex Araújo

sábado, 4 de maio de 2019

O “Meteoro” Bolsonaro e o vírus da polarização ideológica.

Resultado de imagem para meteoro bolsonaro No Brasil, a partir de 31 de agosto de 2016 até o final de 2018, começamos a sentir uma divisão social e ideológica, concomitante com a queda do governo petista e o impeachment da Dilma Rousseff, a qual perdeu o cargo de Presidente da República para o vice Presidente Michel Temer. Após três meses de tramitação do processo iniciado no Senado, foram 61 votos a favor e 20 contra o impedimento. Alguns afirmam que houve um golpe, por que no Brasil existe a lei da ficha limpa A lei Complementar nº. 135 de 2010, a qual torna o candidato inelegível o impossibilitando de disputar eleição em função pública. Contudo, com o caso da Dilma poder concorrer depois ao senado se diz que foi desmistificando o caso de uma inelegibilidade por crime de responsabilidade.
Com a posse do Presidente Bolsonaro, voltamos a sentir ares de como se ainda estivéssemos no período da guerra fria, a guera ideológica entre a direita e a esquerda. Jã nas campanhas politicas se mostravam sinais de extremismo político e ideológico por parte do atual Presidente que se intensificou com a sua posse e as ideologias pessoais de alguns dos seus ministros.
Atualmente se torna necessário romper com a ideologia política e parar de nos limitarmos entre o pensamento dual de direita e esquerda, pois se sabe que a melhor forma de controlar os indivíduos é dividindo as pessoas colocando umas contra as outras. Essa polarização não favorece ao Brasil nem ao brasileiro. Quem sabe não está se pintando uma perspectiva diferente, pessoal, politica, religiosa, cultural, econômica etc. do mesmo “objeto”, sendo assim, estamos nos tornando arrogantes e inflexíveis com a perspectiva do outro. (Já houve um tempo em que se podia falar sobre politica e depois mudar de assunto, falar sobre outras coisas sem que não fossemos julgados e condenados pelo outro; esquerdopata ou bolsominion)
A universidade pública, os Institutos Federais, os professores, a educação em si estão sendo demonizados pela extrema direita. Esses espaços públicos e pessoas promovem o desenvolvimento da ciência, da educação, da tecnologia do trabalho e do pensamento crítico e estão ameaçados a reduzir a sua atuação em favor da sociedade por causa dos cortes previstos pelo governo por alguns anti-intelectuais. (é fácil de entender ver a maioria que não estuda ser contra a educação, mas quem precisa e é contra e educação pública fica difícil).
A educação e o trabalho são os meios mais prováveis de um indivíduo ascender socialmente e se mobilizar de uma posição a outra, entre os estratos socioeconômicos. A hegemonia cultural é uma coerção ideológica, sem o uso da força, que introduz um conceito de estado ampliado (pobre defendendo os direitos dos ricos acima dos seus direitos; nesse caso: algumas pessoas concordam que a educação só pertence a uma elite intelectual, perpetuado ideologicamente o status quo na sociedade onde cada um tem que ocupar o seu luga. Uma espécie de despotismo ou “determinismo social”). Estão diminuindo os nossos direitos à educação com os cortes nas verbas direcionadas as universidades, e diminuindo a nossa possibilidade de mobilidade social através da educação. Para o governo só se faz necessário que tenhamos uma consciência prática: um conjunto de saberes necessários para desempenhar uma função qualquer, sem considerar importante que tenhamos que ter uma consciência discursiva, que seja capaz de refletir sobre o porquê fazemos determinadas coisas e para quê a fazemos.
O “meteoro Bolsonaro colidiu com a terra” e trouxe consigo uma espécie de “vírus”, que não é mortal, entretanto, que bestializa as pessoas. Esse “vírus” trouxe a raiva, fez aumentar a intolerância, a violência, a homofobia, a estupidez, dividiu famílias e amigos e o mais perigoso está acontecendo agora, que é o descaso com a educação o que pode comprometer com futuro do país. Na verdade me pergunto se o Bolsonaro não é simplesmente como um espelho que reflete a nossa própria imagem, o nosso inconsciente: preconceituoso, invejoso, arrogante, perverso, enganador. Nessa brincadeira de passar o enel ainda faltam mais de três anos para o nosso o nosso “Gollum brasileiro” passar o anel, até lá não se sabe o que ainda pode ser piorado.

Fonte da imagem: https://www.youtube.com/watch?v=9tJ-g9IGwy0
Alex Alves