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sábado, 17 de maio de 2014

O universo de “indivíduos” num mundo de “pessoas”

“Jesus ama o pecador, mas aborrece o pecado”. Eu porem poderia dizer que admiro as religiões, no entanto, odeio o fanatismo religioso.
As religiões fazem parte das culturas da humanidade, as quais devem ser respeitadas todas elas. As convicções religiosas das pessoas muitas vezes as levam a cometerem injustiças, tendo em vista que os seus dogmas, as suas crenças, mitos e ritos se consideram exclusivamente verdadeiros e inquestionáveis. 
Platão atribuía aos demônios a sua inteligência, santos Agostinho na idade media atribuiu aos demônios a idéia de seres malignos. Existia uma crença de que os demônios desciam do céu e se relacionavam sexualmente com os humanos e que do fruto desse relacionamento nasciam às bruxas, esse fato foi motivo de muitas mortes causadas pela igreja católica na idade media. Quando na verdade o interesse era econômico, pois as terras e os bens da suposta bruxa eram confiscado pelo Estado/Igreja; a suposta bruxa não tinha o direito de justificar sua inocência e conseqüentemente era queimada na fogueira. Quem ousar-se interferir seria queimado junto com ela. O interessante nessa historia é que não se ver ou pouco se fala em possíveis bruxos ou caça aos bruxos. Refletindo uma dominação machista a qual sempre dava proteção aos homens.
Uma questão singular levantada por Adorno e Horkheimer no livro A dialética do Esclarecimento, é que o iluminismo liberta o homem dos mitos, lendas e crendices nas divindades. Todavia, deveríamos evoluir, por ocasião do conhecimento, no entanto, a espécie humana está se afundando numa barbárie. Qual foi o bem que trouxe a ciência? Todo o desenrolar do processo de esclarecimento se dá com base no medo do homem do desconhecido e de sua tentativa de auto-conservação e de sobrevivência (o medo da morte).
Não quero invalidar as religiões, até acredito que tentar invalidar uma idéia ou conceito religioso confiando unicamente na ciência, é tão absurdo quanto levantar um conceito baseado unicamente por ela, todavia, a ciência é feita de acerto e erro. 
A teoria da relatividade geral, que Einstein desenvolveu nos Estados Unidos, um dos dois pilares da física moderna, hoje só serve como um clássico. Os jovens de hoje utilizam uma ciência mais avançada, e assim será daqui por diante por causa da evolução na tecnologia. 
A ciência não foi criada por nenhum homem, e sim, interpretada por eles. As coisas que estavam ocultas foram trazidas a tona, ao conhecimento deles. 
Outro fato importante é que a Bíblia está cheia de alegorias e metáforas e, foi distorcida por vários séculos para reforçar e satisfazer a vontade de vários Reis, dos quais, dois deles: Henrique VIII e o rei James da Inglaterra em 1611. Outros textos da Bíblia se perderam ou foram completados pelos gregos; por isso algumas divergências nos livros do novo testamento. Lucas e Mateus, por exemplo, tem diferentes lugares do nascimento de Cristo. Um é numa casa e no outro numa manjedoura. Ou em João 7:8 que fala sobre a mulher pega em adultério.
Para muitos a passagem se dá com a intenção de prender Jesus, pois, nesse caso só haveria uma resposta ao julgamento imposto: apedrejar ou liberar a mulher. Se apedrejasse Jesus estaria indo contra o que ele pregava (o perdão), e se liberassem estaria indo contra as leis de Moisés. Como todos já sabemos como termina, eu quero levantar um olhar para outra perspectiva. Para alguns estudiosos da Bíblia essa passagem não existia no original e foi acrescentada pelo rei James, todavia, “era moda” na idade média alguns reis modificarem para que fossem justificadas algumas atrocidades. Trouxeram somente a mulher e não o homem fazendo transparecer o machismo da época.
A maldição de Can em Gêneses 9:22 justificava a escravidão dos negros nos Estados Unidos, ele seria o pai da nação africana quando na verdade foi Canaã amaldiçoado. Os fugitivos da Inglaterra levaram a Bíblia do rei James para os Estados Unidos da America.
É perigoso usar a Bíblia como prova de qualquer coisa, todavia, por causa da sua maleabilidade, pode ser adaptada a qualquer contexto.
Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará. “Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma conseqüência”. (Leon Tolstoi)

Alex Alves


Bibliografia

Cemin, Arneide. Labirinto - Centro de Estudos do Imaginário. http://www.cei.unir.br/nota2.html (acesso em 12 de 09 de 2013).
Chalmers, Alan F. O que é Ciência, Afinal? São Paulo: Brasiliense, 1993.
ELIADE, Mircela. Tratado de Historia das Religiões. 1970.
Horkheimer, Max & Adorno, Theodor W. A Dialetica do Esclarecimento: Fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
SAGAN, Carl. O mundo asombrado pelos demônios. São Paulo: Compahia das Letras, 1996.
Santos, José Luiz do. O que é cultura. São paulo: Brasiliense, 2006.
WACH, Joachim. Sociologia da Religião. São Paulo: Paulinas, 1990.
Imagem da internet: http://imagensbiblicas.wordpress.com/2008/07/29/quem-nao-tiver-pecado-atire-a-primeira-pedra/





terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Religião e Crenças I


As religiões denominadas afro-brasileiras não são verdadeiras religiões ou são traços arcaicos deixados pela cultura africana no Brasil?


Em se tratando de religião o antropólogo não pode dizer que uma ou outra sejam traços arcaicos remanescentes, no entanto, assim como a cultura a religião evolui, e podem-se encontrar traços de uma em outra totalmente separada. Dizer que uma religião são traços arcaicos seria etnocentrismo, pois daria a idéia de uma coisa ultrapassada ou inferior, o candomblé é uma variação de um segmento de religião africana o qual foi adaptado ao chegar ao Brasil, e existe muita descriminação por parte das pessoas que desconhecem a sua origem; alguns chamam de macumba ou relacionam a magia negra. Na Grécia as pessoas ofereciam animais aos deuses, na bíblia também se ofereciam animais ao Deus de Abraão, e em toda a historia vemos esse tipo de costume, no entanto não se fala nas escolas nem nas igrejas e discriminam e dizem que é uma coisa primitiva de pessoas cuja intelectualidade não evoluiu, por acreditar “nas forças da natureza” ou em oferenda. As religiões afro-descendentes são verdadeiras em se tratando de existir culturalmente como qualquer outra, como disse Lubock: o antropólogo ao estudar as religiões deve se colocar numa posição neutra, ou estádio zero, “ateísmo”. Isso não quer dizer que o individuo vai negar a existência de Deus, mas se desprender de qualquer opinião prévia.

Alex Alves

CASTRO, Celso. 2005. Apresentação. In: CASTRO, Celso. ‘Evolucionismo Cultural. Textos de Morgan, Tylor e Frazer.’ Jorge ZAHAR Editor. RJ. Pag. 7 – 38.

Religião e Crenças II

As crenças são produtos da vida social que a reflete



Segundo a antropologia, o homem criou signos que podem transmitir conhecimento, cultura, sentimento, arte etc. A capacidade de pensar e falar, procurar os significados das coisas, refletir sobre um criador, levou o homem de uma linguagem inarticulada para uma mais articulada. O pensamento em um ser divino leva o homem de uma conduta instintiva a uma conduta moral. 
A permanência nos grupos passou a exigir uma conduta moral baseada nos costumes, mitos e crenças das sociedades as quais pertenciam o individuo. Segundo Norbeck, “as cerimônias, os rituais e as religiões são baseados no sistema social, os quais estão integrados os agentes sociais”. Geralmente a sociedade, a qual o modo de vida gira em torno da agricultura, vai crer que a sua colheita dependerá de uma divindade, a qual tem o poder de determinar se a colheita será boa ou ruim. Se a divindade não estiver zangada a colheita será boa, se não, será ruim como forma de castigo.
As sociedades que dependem do mar para viver geralmente relacionam a sua sorte aos deuses relacionados ao mar. Acreditam que existem divindades, as quais estão relacionadas ao mar e delas depende a sua sobrevivência. Seja na pescaria ou ao navegar não serem tragados pelo mar. O homem em geral, não tem como imaginar como ou qual seria a vontade de deus, se não, segundo o que ele entende por verdade, pela sua cultura, pela sua política e as suas crenças. Geralmente os deuses têm semelhança humana, os quais no cristianismo, candomblé, hinduísmo, budismo, islamismo etc. todos são sujeitos aos mesmos desejos e paixões que os homens. Por exemplo, os deuses podem sentir: íra, ciúmes, inveja, amor, compaixão etc. todos os sentimentos relacionados ao ser humano. Outro detalhe é que o Deus europeu é branco, e não negro nem indígena, ou seja, cada sociedade vai criar um Deus a sua imagem e semelhança. Como disse Xenofanes: se um cavalo pudesse pintar como seria o seu Deus, o pintaria em forma de cavalo e Nietzstche: o Deus é a imagem e semelhança do homem, contradizendo a bíblia, a qual diz que Deus criou o homem a sua imagem e semelhança. Algumas religiões pregam uma vida de ascetismo, a qual na concepção de “alguns”: aproxima o individuo do seu Deus, pois o desapego aos bens materiais dará na outra vida, muito ouro e riquezas. Em uma sociedade grande as religiões tendem a separar as pessoas. Devido às diferentes crenças, que são muitas, e cada pessoa achar que a sua religião é a verdade.
Mesmo uma pessoa não sendo um fundamentalista religioso ou intolerante com as outras religiões, existe um certo pré-conceito em aceitar os argumentos de uma outra cultura religiosa estranha da sua; todavia, o individuo só busca argumentos que reforce a sua crença em determinada religião, a qual ele acredita, acarretando na desintegração social ou o afastamento social.
Mesmo sendo uma questão primitiva de regras baseada na moral e nos costumes, as religiões tem a sua contribuição social, uma vez que, faz um individuo refletir antes de infringir uma norma social ou algumas regras sociais como: matar, roubar, cobiçar etc. e outras as quais são conhecidas como pecados capitais: gula, avareza, inveja, luxuria etc. Os fatos sociais de Durkheim são um exemplo de como as normas sociais são importantes para as sociedades; nele a religião é um dos “determinantes” e delineadores do comportamento humano; a sociedade é quem cria o individuo. A crença em almas ou espíritos e uma vida após a morte podem atenuar o medo do “fim”, o individuo vai aceitar a morte de uma forma menos destruidora, pois, entenderá que a morte só será um meio para chegar ao mundo espiritual o qual não haverá sofrimento nem dor. 
Cada sociedade vai ter a sua crença baseada nos seus costumes religiosos, e essa crença sofrerá mutações na medida em que as sociedades vão trocando experiências umas com as outras, as religiões sofrerão adaptações, e isso faz parte da evolução cultural das sociedades. As religiões não devem ser comparadas moralmente ou colocadas num patamar que caracterize uma proximidade ou distancia com a razão, todavia, todas são baseadas na crença, o que não poderá de forma alguma atestar a sua eficácia ou veracidade. Se um individuo acredita que existe uma força, a qual possui a capacidade de interferir espiritualmente no mundo em que vivemos e essa energia pode emanar de um objeto ou pessoa e pode ser passada pelo toque ou pela presença no mesmo local com o objeto ou pessoa. Não se pode dizer que essa pessoa é atrasada ou intelectualmente inferior as outra pessoas, pois a religião não é baseada na razão, realmente acredita-se que exista certa necessidade de conhecimento e preparação em entrar em contato com os “objetos”, os quais o mana esteja relacionado. O Tabu é uma forma de manter as pessoas desavisadas a distância. De certa forma existe tabu em tocar em determinadas “coisas ou pessoas”. Um exemplo interessante é o medo que algumas pessoas têm em esbarrar - tocar - em uma oferenda aos deuses africanos, pois, imagina-se que ao tocar no “objeto” certo mal poderá sobrevir contra o individuo. Outro exemplo seria a cura através da imposição das mãos, algumas pessoas acreditam emanar poder de cura ao tocar os doentes e enfermos. A ciência não aceita as teorias religiosas as quais afirmam poder curar, ter uma experiência de sair do corpo ou falar com espíritos; Norbeck aborda sobre o antagonismo entre a ciência e a religião: com o crescimento das ciências as explicações baseadas na religião para esclarecer os fenômenos naturais perderam força. 
Os fatos tendem a explanar ou conduzir para esse caminho: o qual, as crenças são produtos da vida social a que a reflete; como podemos ver no começo desse texto, os deuses estão relacionados ao modo de vida das sociedades; o homem em geral, não tem como imaginar como ou qual seria a vontade de Deus, se não, segundo o que ele entende por verdade, pela sua cultura, pela sua política e as suas crenças. 
Os “homens” criaram deuses para explicar fenômenos naturais e coisas que ele não conseguia explicar. Existem deuses antropozoomorficos, metade animal, metade humana, ao quais está determinada toda a vida no planeta e o antropomorfismo dos gregos o qual o termo antropo significa (homem) e morfismo (forma); ou africanos, indígenas, híndu ou budista os quais todos sujeitos aos mesmos desejos e paixões.
Pode se considerar que: “As religiões e as crenças são criadas a partir das necessidades psicológicas e sociais do “homem”. Não há registro em qualquer estudo por parte da História, Antropologia, Sociologia ou qualquer outra "ciência" social, de um grupamento humano em qualquer época que não tenha professado algum tipo de crença religiosa. As religiões são então um fenômeno inerente a cultura humana, assim como as artes e técnicas. Grande parte de todos os movimentos humanos significativos tiveram a religião como impulsor, diversas guerras, geralmente as mais terríveis, tiveram legitimação religiosa; estruturas sociais foram definidas com base em religiões e grande parte do conhecimento científico, "filosófico" e artístico tiveram como vetores os grupos religiosos, que durante a maior parte da história da humanidade estiveram vinculados ao poder político e social.
Hoje em dia, apesar de todo o avanço científico, o fenômeno religioso sobrevive e cresce, desafiando previsões que anteviam seu fim. A grande maioria da humanidade professa alguma crença religiosa direta ou indiretamente e a Religião continua a promover diversos movimentos humanos, e mantendo estatutos políticos e sociais. Tal como a Ciência, a Arte e a Filosofia, a Religião é parte integrante e inseparável da cultura humana, e muito provavelmente continuará sendo. Não cabe ao antropólogo a valoração de costumes e crenças das religiões, o certo é que a religião faz parte da cultura dos povos e como parte integrante da cultura sofre as variações dos diversos locais, como também influência nos seus costumes.

Alex Alves